Thursday, September 1, 2011

Querida Aline - resposta a um comentário

Uma pessoa que eu não conheço comentou aqui no blog. E como a resposta é longa, virou um post. Me fez lembrar de um tempo não tão bom da minha vida, mas que foi essencial para eu ser a Iana Coimbra de hoje.

Querida Aline,

Com 20 anos eu entrei numa fase estranha. Fazia faculdade de jornalismo, trabalhava em uma ONG que eu amava, recebia um salário bacana para a época, namorava, tinha grandes amigos e tinha um relacionamento bacana com Deus. Era tudo o que eu tinha planejado no final do ensino médio. Estava acontecendo!

Mas me lembro que de repente acordar ficou pesado. Sair da cama extremamente difícil. Trabalhar ficou automático. Ir para a aula um suplício. Não tinha motivos. Nada aparente. Mas a vida me doía. Queria dormir. Só dormir. Lembro de uma conversa com uma das minhas irmãs e eu disse a ela que apenas sobrevivia. No meio desse período eu tinha momentos bem alegres, mas a minha rotina era morta. Minha alegria virou apatia. Não tenho muitas recordações daqueles meses, porque no fundo eu virei um zumbi. A sensação era de que eu nunca chegaria a lugar nenhum. De que a adolescente que era uma promessa, sumiu.

Hoje a vida é outra. Mudei minha postura diante das coisas. E sem perceber o meu mundo acompanhou... Mudei de emprego. Dei um tempo no namoro. Desisti de ser um prodígio. Me impus leveza. E o que era pesado fui deixando para trás. Convicções que me prendiam, me escravizavam e eu nem sabia. Eu queria dominar o mundo. Aí decidi começar dominando a mim mesma. Tirei o peso de "ter que ser feliz", "ter que ter sucesso", "encontrar o amor da minha vida"... e todas essas coisas que quando temos vinte e poucos, ou vinte e tantos, nos escravizam. Escolhi a liberdade. Parei de escrever metas, alvos, ou qualquer coisa que pudesse me causar frustração. Entendi que eu era jovem e parei de tentar ser mais do que eu tinha condições de ser.

Nesse período turbulento eu amadureci. Na marra. Na pancada. Tem gente que quando passa por essas situações chuta o balde geral. Eu não podia. Não suportava a ideia de abandonar a faculdade... Lembro que minha mãe me disse que se eu quisesse podia parar de trabalhar que a gente dava um jeito, que eu tinha pai e mãe. Mas eu não me sentia no direito de pedir a eles que me bancassem. Não era justo. E segurei a onda (que para mim mais parecia um tsunami). Mudei meu relacionamento com Deus. Resolvi jogar limpo, ser franca, honesta. Entendi que ele não queria a "Iana Perfeita". Ele queria a Iana e ponto final. Do jeito que fosse. Desisti de brigar. Entreguei o caos e Ele deu conta do recado.

Anos depois li um livro que falava sobre a "Crise dos 25 anos" e entendi que eu vivi isso (e cá entre nós, revivi num surto enlouquecido há uns cinco anos, mas de outro jeito. História que pode ficar para um outro post). Esse mundo louco faz com que a gente queira sempre mais, quando às vezes precisamos é de menos.

Tirei a frase "para sempre" da minha vida. Por que ela escraviza. A substituí por "hoje". Por exemplo, eu não queria pensar que estava com o meu namorado "para sempre". Isso me dava pânico. Decidi que queria fazer aquele relacionamento funcionar "hoje". Desisti de lutar para ser a melhor executiva de marketing (área que eu trabalhava na época) de todos os tempos. Escolhi batalhar para ser a melhor profissional "hoje". Comecei a viver um dia de cada vez. Busquei descobrir o que me fazia feliz. Lutei para reencontrar minha espontaneidade. Reconstruí a minha vida com base nessas descobertas. E acho que deu certo. Nem sei se as pessoas imaginavam que em mim o mundo se despedaçava. Talvez algumas até se surpreendam com esse post, porque eu vivi essa loucura comigo mesma. Mas o tempo passou... eu cresci... minha perspectiva mudou... Me reencontrei.

Lembro que quando terminei meu namoro eu pensava que tinha desperdiçado todos aqueles anos. Com o tempo aprendi a pensar diferente. Os aproveitei bastante, mas de outra forma. Acompanhada. E aquelas experiências me fizeram chegar onde cheguei. Não se coloque esse fardo de ter namorado alguém muito tempo e não ter dado certo. É um peso difícil de carregar, que não levará a lugar nenhum e prejudicará a história que você vive hoje. Aceite o seu passado, não brigue com ele. Mas aprenda com o que se foi. E deixe ir.... E aos pouquinhos essa mochila pesada se vai...

Te desejo uma vida plena. Mas te aviso: precisamos desses vales para entender o que é estar nas alturas. Faz parte da construção da identidade do ser humano. O caos pode nos fazer pessoas melhores. E o abafamento das tribulações nos ensinam a voar com a leveza que uma hora virá.

Grande beijo,
Iana Coimbra