Sei exatamente onde eu estava há um ano. Era uma quarta feira a tarde e eu aguardava na frente de um presídio a soltura de um jovem que tinha sido preso por engano. Como o procedimento é demorado comecei a checar o Twitter. Até que uma mensagem me tirou o chão: o Dinho tinha falecido num acidente de carro.
Alexander Borges, conhecido como Dinho, era casado com uma amiga de infância, a Nanda. Eles tinham dois filham e formavam uma família linda. A Nanda sempre foi super divertida e o Dinho era um cara muito legal, daqueles de quem é fácil gostar. Ao confirmar pelo telefone a notícia, larguei o trabalho e fui correndo encontrar com meus amados amigos, que para mim são como uma família.
Essa é uma hora que você não tem muito o que fazer. Então simplesmente fiquei lá, abraçando, chorando junto, orando, ajudando a fazer lanche para os meninos, e até lavando a louça. Vendo a dor dos meus queridos eu só pensava: como vai ser agora? Como a Nanda e os meninos vão ficar?
O velório do Dinho foi um dos mais lindos e mais tristes que já fui. Triste porque nunca estamos prontos para lidar com a morte. Ainda mais quando se é jovem, cheio de vida, tem uma esposa e dois filhos para criar. Mas foi lindo porque a presença de Deus estava ali. Nunca fui a um funeral tão cheio. Cheio de tudo: de gente, de carinho, de amor, de saudade. Mesmo sem entender a Nanda adorou a Deus, agradeceu ao Senhor pelo tempo que teve com o marido e liberou o perdão ao caminhoneiro que o matou. Um atitude que muita gente não entende, mas que faz toda diferença na vida que segue.
Uns dias antes do enterro separamos algumas fotos da família, com todos juntos e felizes, para espalharmos pelo lugar do velório. Uma forma de lembrar os anos bonitos que o Dinho viveu com os amigos e a família. Retratos de uma vida feliz.
Naquele dia olhei para a Nanda, para o Nick e para Lu e tive a certeza de que eles dariam conta do recado. Que eles dançariam sobre toda dor. Que um dia a gratidão seria maior que o luto.
E assim tem sido. Passado um ano a vida é bem diferente. A saudade que eles sentem não some, mas vemos a Nanda e os meninos lutando, sobrevivendo e reaprendendo o caminho da felicidade.
Há uns meses ela me ligou me perguntando se eu poderia fazer umas fotos dela para um projeto. Meu coração se aqueceu e propus com alegria uma sessão junto com os meninos. Retratos da nova família que tive o prazer de registrar. As fotos que seguem são desse dia. Fomos ao condomínio onde eles compraram um lote e planejavam construir uma casa para morar. Ali, onde a ausência ainda doía, celebramos a vida.
A morte tem o peso que damos a ela. A notícia de um falecimento sempre vai ser recebida de um jeito difícil, dolorido, carregada de tristeza. Só que com a ajuda do Alto o peso da dor se vai à medida que, de mansinho, a leveza das boas lembranças fica. E a paz que excede à todo entendimento substitui o buraco deixado por quem partiu.
Querida Nanda, que bom saber que o luto vai dizendo adeus. Que a sua vida e a dos meninos seja regada de alegria, sorrisos, dança e de belas recordações.
Amo muito vocês.