Eu gosto de política. Não gosto é do que algumas pessoas fazem com ela. Eu gosto de votar. Eu não gosto é dos candidatos que me aparecem. Eu gosto de campanha eleitoral. Eu não gosto é da coação que ela se torna.
O segundo turno em BH foi ridículo. Ridículo e inconstitucional. A campanha do Leonardo Quintão foi construída na tal história de "gente que cuida de gente", que "dá jóia" e se esforça no "mineirês". A do Lacerda foi no melhor estilo "tenho o apoio do governador e do prefeito e é só por isso que estou aqui". Aí veio o vídeo do "nós vamos ganhar e chutar a bunda deles", protagonizado pelo Quintão. Ontem ri demais ao ver até adesivos de carro com os dizeres que se tornaram famosos. Ouvi também alguns eleitores saindo das urnas e brincando: "acabei de votar e chutar a bunda deles!". E como tudo no Brasil, o que é sério vira piada.
O último debate foi interessante. O Lacerda tomou um banho. Com seus tiques e sorrisos ensaiados ao final de cada frase (com certeza toque de algum assessor para torná-lo mais simpático), deixou muito claro o que todo mundo já sabia: ele é apenas a figura que vai encenar na prefeitura. Foi engraçado vê-lo quase falar por duas vezes "isso dá para fazer", frase que virou jargão do adversário.
Mas se a minha antipatia pelo Lacerda e Cia. já estava sendo construída ao longo da campanha, ela se consolidou no sábado pela manhã. O telefone de casa tocou e eu atendi. Uma gravação feminina começou: "Aguarde só um instante que o Governador Aécio Neves vai falar". Como assim???? O que ouvi em seguida foi o ponto alto de uma campanha bem agressiva. O maior cabo eleitoral do Lacerda começou a falar em uma gravação que eu deveria votar no número 40 porque ele era o único que poderia contar com o apoio do governo do estado. Que ele era sem dúvidas o mais preparado para assumir o cargo e que ele, Aécio Neves, pedia o meu voto para o Márcio Lacerda. Peraí! Fazer campanha eleitoral na véspera é inconstitucional! O governador praticamente disse que só apoiaria o trabalho da prefeitura se o candidato indicado por ele fosse eleito. Isso para mim é coação.
Ontem, domingo, BH acordou com milhares de cartazes difamando o Quintão. Ou seja, o que não faltou foi dinheiro para denegrir a imagem do adversário do governo, o que considero um ato de desespero diante da possibilidade de ver a caríssima campanha apoiada por 20 partidos (uma aliança histórica), por Aécio e pelo prefeito Pimentel, ir para o ralo.
Quintão perdeu. Lacerda ganhou. 59,12% contra 40,88% dos votos válidos. Agora é ver o que vai acontecer nos próximos quatro anos, ou melhor, nos próximos dois, nas eleições para presidência e governo do estado, porque lá vêm Aécio e Pimentel.