Showing posts with label Jornalismo. Show all posts
Showing posts with label Jornalismo. Show all posts

Wednesday, April 3, 2013

Primeiro de abril


O meu primeiro de abril terminou com várias verdades que eu preferia que fossem mentiras. Caos na saúde, epidemia de dengue, criminosos ateando fogo a ônibus e atirando para o alto como protesto pela morte de um traficante, homem morto ao lado do namorado com um tiro na cabeça por causa de dívidas.

Não queria que as coisas acontecessem e muito menos que eu tivesse que dar essas notícias. Às vezes me perguntam se eu não acho que tem violência e tragédia demais nos jornais. Concordo. Tem sim. Mas não porque temos prazer em exibir esse tipo de conteúdo, mas porque são histórias que precisam ser contadas. Denúncias que precisam ser feitas.

Quando vejo um jovem morto, caído ao chão, penso em como ele chegou até ali. Quais foram as escolhas decisivas, como a vida dele poderia ter sido se os caminhos fossem diferentes. Quando vejo uma UPA nova, sem médicos, abarrotada de pacientes penso onde foram parar os profissionais da saúde que fogem desse atendimento. Eu não vejo apenas fatos. Eu vejo histórias que precisam ser mostradas.

Adoraria só contar casos bons, felizes, mas enquanto este país continuar sendo um lugar que parece viver um eterno Primeiro de abril, fico com a realidade triste, dura, mas que precisa ser mudada por pessoas de verdade. Que se importam de verdade. Que amam de verdade. Brasileiros de verdade.

Ps: Quem quiser ver, as matérias estão aqui:
http://www.alterosa.com.br/html/noticia_interna,id_sessao=7&id_noticia=101335/noticia_interna.shtml
http://www.alterosa.com.br/html/noticia_interna,id_sessao=7&id_noticia=101347/noticia_interna.shtml
http://www.alterosa.com.br/html/noticia_interna,id_sessao=7&id_noticia=101350/noticia_interna.shtml

Tuesday, October 4, 2011

Matéria: Os últimos passos de Núbia

Núbia falou com a mãe um dia antes. Disse que faria uma entrevista de emprego pela manhã. A tarde iria ao dentista e que ligaria para contar as novidades. A estudante nunca ligou de volta. Quatro dias depois a mãe relatou o desaparecimento da jovem a polícia.

Essa foi a história da matéria que fiz e que está neste link. http://www.alterosa.com.br/html/noticia_interna,id_sessao=7&id_noticia=62122/noticia_interna.shtml

Ao gravar essa entrevista com a dona Jutelma meu coração ficou apertado. Ver o olhar vazio para as coisas da filha. A esperança da jovem reaparecer. E o pouco conhecimento sobre a rotina de Núbia. A mãe sofre... Não tira os olhos da porta, não sai de perto do celular. O medo de receber uma má notícia... ao lado da fé de que tudo vai dar certo.

Quando me despedi, com um abraço apertado (e o coração mais ainda), ela me falou as seguintes palavras: "Você vai trazer minha menina de volta para casa?". Respirei fundo, olhei dentro dos olhos sofridos, e respondi que adoraria ver a Núbia aparecer por causa da matéria...

Na ausência de notícias esperamos. Enquanto oro para que o sonho de dona Jutelma se realize. Tomara.

Thursday, July 21, 2011

Ser repórter

Tenho me dedicado a trabalhar e contar histórias. Muitas. Cada uma de um jeito. Bonitas. Tristes. Revoltantes. Curiosas.


Primeiro ouço. Atentamente. Daí filtro o que é o mais importante. Já chorei no meio de entrevistas. Já dei gargalhadas. Já me coloquei no lugar das pessoas e também aprendi a me distanciar. Não tenho fórmulas. Cada dia é um dia. Cada história é uma história. E eu, sou uma Iana só. Tentando me reiventar.


Sempre volto para casa com muitos casos. De todos os jeitos. De barracos homéricos à tragédias difíceis de digerir. De denúncias de descaso público à problemas familiares. Lido com a educação e a falta dela diariamente. Com pessoas que nos olham com confiança e outras como se fôssemos ETs. E assim busco contar o que acontece mundo a fora. Tento transmitir o que observo de um jeito diferente. Me esforço para trazer a verdade, a emoção, o coração. Porque é disso que as pessoas são feitas.


Ser jornalista, especialmente ser repórter, é saber contar histórias. É buscar os dois lados da moeda, seja o caso que for. É encontrar a novidade no meio do óbvio e estar sempre em busca de algo mais. É ser um pouco idealista, ainda que isso canse, e ter a convicção de que uma matéria bem feita pode fazer diferença na sociedade. E como é bom quando isso realmente acontece.


Conto muitas histórias e elas ajudam a contar a minha também. Sinto falta do meu tempo, mas minha vida se torna mais rica a cada novo personagem que encontro. É quando respiro fundo, tento driblar o meu cansaço e corro para a próxima pauta e para a próxima história que terei o prazer de contar.

Saturday, December 4, 2010

Rio de Janeiro - Parte 2

Acordamos cedo e fomos para o SBT. A ideia era nos apresentar para a redação local, afinal éramos uma equipe mineira em terras cariocas. Apresentação feita, seguimos para a Vila Cruzeiro. Já no carro, poucos quarteirões à frente vimos uma grande movimentação da polícia. Sem saber o que era paramos e saímos corremos. No melhor estilo: “filme primeiro, pergunte depois”. Rodrigão e eu fomos os primeiros a chegar ao local. Ali encerrava uma perseguição. Os suspeitos tentaram atear fogo em um caminhão que tinha três pessoas dormindo dentro, mas os policiais conseguiram impedir. Houve troca de tiros. A confusão terminou com um fugitivo, um preso e um ferido (que no final acabou falecendo).


Eu nunca tinha visto sangue daquela forma, no chão. E nós mal tínhamos chegado ao Rio. Entrevistei os policiais, os caras que conseguiram sair vivos do caminhão, as pessoas ao redor, e o Rodrigão registrou cada detalhe. Inclusive quando os policiais tiraram do carro uma garrafa com gasolina, uma arma e os documentos dos suspeitos. Quando estávamos terminando o trabalho vimos as outras equipes chegar. Só quem é jornalista sabe o prazer de ser o primeiro.


Voltamos ao carro e seguimos. Começou assim nossa jornada no Rio de Janeiro.

Friday, December 3, 2010

Rio de Janeiro - Parte 1

No meu primeiro ano de faculdade eu ainda estava muito envolvida com as simulações da ONU. Era meu terceiro ano como delegada (participei dos primeiros Mini-ONU, de um AMUN e de um Harvard World MUN) e ainda sofria por ter passado no vestibular em Jornalismo e não em Relações Internacionais. Sempre quis mudar o mundo e as simulações, que aprendi a amar, me proporcionavam o gostinho disso, mesmo que de brincadeirinha.


Quando optei por encarar o Jornalismo continuei com uma beiradinha do meu coração inclinada para RI. Decidi então que meu trabalho de conclusão de curso seria a cobertura jornalística de conflitos armados. A forma perfeita de continuar estudando os problemas mundiais aliados à minha realidade. Mas o tempo passou e minha vida seguiu um caminho diferente. Até semana passada.


Na última quinta feira de novembro fui enviada pela direção do TV Verdade para cobrir a guerra no Rio de Janeiro. Enquanto o Carlini falava da minha missão, observei, pela TV que havia na sala, imagens dos traficantes fugindo da Vila Cruzeiro para o Complexo Alemão. Respirei fundo e aceitei (com muito frio na barriga) a tarefa.


Na primeira manhã no Rio me lembrei do antigo desejo de estudar sobre jornalistas no front. Foi quando me dei conta de que nunca escrevi nenhuma linha sobre o assunto, mas naquele dia viveria toda essa experiência. Não como estudante, mas como repórter. Não atrás de uma televisão, mas de corpo e alma no local do conflito. E assim foi.


Ainda não posso mudar o mundo, mas já consigo compartilhar o meu olhar. Posso ser ouvida, vista e convidar pessoas para compreenderem comigo este universo tão louco. E isso me dá uma grande sensação de missão cumprida.