Tuesday, March 10, 2009

Já ouviu falar da Europa pós-cristã?

Há anos ouço o Pr. Gustavo falar sobre isso, mas eu nunca tinha conhecido ninguém que de fato tivesse esse tipo de pensamento. Até encontrar o Georg e a Elizabeth. O Fred e o Georg moraram na mesma república na Escócia e foi lá que o convite para conhecer o Brasil foi feito. E ele e a namorada vieram mesmo. Da Áustria para o Brasil.

Eles são católicos nominais, mas não acreditam muito na Bíblia. Para eles esse é um livro que não deve ser considerado literal e nem levado muito a sério. A cruz com certeza não é algo que de fato aconteceu. Seria cruel demais. Salvação? Para quê? De quê? Não existe inferno. Sim, Deus existe e Ele está em algum lugar distante no céu, porém eu sou o centro do meu mundo, e isso não é importante para o Todo Poderoso. No final das contas, cada um deve cuidar da sua vida, porque depois da morte todos se darão bem.

Os dois são pessoas incríveis, muito inteligentes e me impressionei com a eloquencia do Georg. Foi aí que ele me disse uma coisa que me fez pensar: "- Eu não suporto missionários". Juro que tentei controlar minha expressão, mas ele percebeu meu susto e começou se explicar. "- Eles não respeitam a minha opinião, Iana. E também não sabem conversar". Respeito: a palavra da vez.

Durante esse tempo que eles passaram conosco essa foi uma das coisas que mais aprendi. A respeitar. Não dá para ser intransigente. Não dá para querer "enfiar Jesus goela abaixo" das pessoas. Não dá para querer impor uma cultura de um dia para o outro. Tudo começa com respeito. Jesus é o maior exemplo de cavalheirismo. Ele não obriga ninguém a aceitá-lo, da mesma forma como Ele não rejeita ninguém. As pessoas precisam aprender a conversar. E é preciso se informar também, se interessar pelo universo do outro, sair das quatro paredes do "evangelho bitolado".

Nos dias em que estivemos com o Georg e a Elizabeth procurei mostrar quem é Jesus para mim. Tanto os levando para ver como é um culto protestante brasileiro, como em coisas simples do dia a dia. Uma noite fui ajudá-los a comprar pela net passagens aéreas. Eles tentaram várias vezes, mas não conseguiam. Aí eu brinquei: "- Vou falar aqui com Jesus e Ele vai me ajudar. Quer ver?". Eles riram e me lançaram um olhar com o maior descrédito do mundo. Orei rapidamente e fiz a mesma coisa que eles já tinham feito 7 vezes. Deu certo. Eles ficaram surpresos e não perdi a oportunidade: "- Tá vendo. O meu Deus liga para os detalhes. A viagem de vocês também é importante para Jesus. Ele é o cara!".

Passamos dias muito bons e eles voltaram para a Áustria. Nesse tempo buscamos oferecer a eles o nosso melhor, de todas as formas possíveis. Em nossos diálogos os escutamos e os valorizamos sempre, mostrando também, é claro, nosso ponto de vista. Eles já se foram e ficou a amizade, o carinho, a saudade, e é claro, o respeito.

Não existem fórmulas prontas e não somos sabedores de tudo. Então me lembro de Agostinho: Pregue, e se for preciso, use palavras. Talvez o problema esteja justamente aí. Estamos falando demais.

Elizabeth e Georg, no dia que fomos apresentá-los a Ouro Preto.

24 comments:

Ministério de Dança Heavenly said...

Muitas vezes não nos damos conta como as coisas são e estão pelo mundo afora... Essa frase de Agoatinho tb é tremenda! Gosto muito de passar por aqui! Que Deus te abençoe sempre!

Paulo Victor said...

Oi, Iana.

Muito pertinente o teu post. Já vi a Helena pregando sobre isto, o Gustavo tb, a Nívea... E é muito bom ver tamanha lucidez vinda de pessoas como vocês que, querendo ou não, são líderes da Igreja no Brasil.

Parece que, a cada dia que passa, grupos evangélicos têm se enclausurado em pequenos feudos gospel, criando música própria, vestes próprias, manias próprias, vícios próprios, tudo com a finalidade de se diferenciar do mundo. Mas esquecem-se que a verdadeira diferenciação (circuncisão) é aquela que ocorre nos corações, invisíveis aos olhos superficiais humanos, mas sensíveis pela convivência entre as pessoas.

Nisto, a igreja perde a oportunidade de mostrar Jesus, pois qdo resolve sair da busca incessante pelo "farta-se" em gula, do "Espírito", apresenta ao mundo um jesus agressivo, que ofende, que ataca, que acusa... um jesus insuportável.

Gosto muito dessa frase também (mas acho que ela é de São Francisco de Assis). Lembro-me que ela serviu de inspiração ao Michael W Smith, para compor "Live the Live", em 1997. A música - como a citação - diz que para que o mundo conheça a verdade é necessário que "vivamos a vida".
Ir pelo mundo e pregar, ainda que sem palavras... esse sim é um grande desafio.

Como diria aquela outra música: "se o que você vive é diferente do que diz, então, meu amado, é melhor ficar calado..." hehe

Anonymous said...

Que experiência boa!
É mto bom conhecer pessoas de culturas diferentes e é sempre um aprendizado.
Concordo com tudo e mais um pouco! rsrs..
Moro onde há uma grande diversidade de culturas e religiões, e às vezes falar abertamente de Jesus, é falta de respeito à religião dos outros. (Triste!!)
Mas... tô aprendendo, e respeitando (ou aprendendo a respeitar), mas sem deixar de testemunhar nas mais simples atitudes. Como disse: Não dá para querer "enfiar Jesus goela abaixo" das pessoas.


Ótimo post!
Boa semana pra vc!

Leo Tody said...

Acho que o Espirito esta falando:
http://videoadoracao.blogspot.com/2009/03/jesus-e-igreja.html

Ester Tambasco said...

Tenho um tio que é espírita, muito espírita, de tirar o chapéu mesmo pras coisas que ele faz pelos necessitados, como ele se doa pelos outros. Eu nunca fiquei pregando pra ele, tentando convertê-lo, pq ele faz isso mais do que a gente, ele que tenta nos converter. Esses dias eu fiquei pesando nisso, eu tenho minhas convicções, ele tem as dele, eu preciso respeitar isso. Intolerância religiosa é uma droga, falta de respeito tb. Essa frase do Agostinho é ótima. Tem gente falando demais mesmo, às vezes a gente fala demais.

Anonymous said...

Ace todo branco fosse assim...

não é a primeira vez que falo isso aqui, mas é impressionante como é difícil conseguir respeito de um "cristão" (sim, entre aspas, mas sem pejorativos). Menos difícil é entender porque as pessoas se afastam da igreja, do deus e dos seus homens.

se a igreja, qualquer igreja (sao todas feitas de homens) se preocupasse tanto com as habilidades humanas dos seus membros (sabe como? falar, ouvir, se interessar, educar, etc) como se preocupa com as sobrenaturais (falar em línguas, curar doenças, fazer milagres, salvar milhares de pessoas e lá vai), talvez esse mundo fosse muito, mas muito mais pacífico...

Wallan Cristhian said...

Legal como as coisas aconteceram.
Eu acredito,pelo que li,que principalmente você aprendeu muito com a estada deles aqui no Brasil.E também acredito que você pode mostrar coisas que eles precisavam saber.
Abraços.

Michele Rodrigues said...

É verdade Iana...
Nem sempre é preciso usar as palavras pra mostrar Jesus para as pessoas. A nossa própria vida deve apresentá-lo. Se de repente tais missionários o tivessem feito, não haveria tanta resistência ao evangelho...
Bom que vc teve sabedoria e graça pra conduzir tudo isso. Certamente seu testemunho gerou algo no coração deles.
Big beijo,
Mi

Andreza Santos said...

oi Iana!
eu acho muito legal o modo que você essa vivencia com o Georg e Elizabeth!
um grande abraço!
que Deus continui iluminado seus caminhos!

Cida Rainha said...

Oi, eu sempre penso nestas pessoas que dizem que não acreditam em Deus e me pergunto, como pode isso?

É o que vc falou temos que aprender a respeitar e isso fica mais difícil quando é alguém mais próximo de você.
Ás vezes você está vivendo algo tão bom com Deus e a sua vontade é de compartilhar com as pessoas que você ama, mas como compartilhar sem soar religioso?

Como dizer que Deus é o "cara" sem usar as palavras e demonstrando apenas com atitudes?

Anonymous said...

O Espírito santo que tem esse papel de convencer as pessoas não é!!!! Vc fez a sua parte mostrou jesus pra eles com sua forma de viver!


o Senhor Jesus passou por coisa pior do isso!!

Até a próxima, a paz do Senhor...

Anonymous said...

Olá Iana...
Tudo bem?
Gostei do Post, quero aproveitar pra deixar aqui uma musica de Carlos Sider q eu gosto muito.

"Frutos que a vida mostrar
farão este mundo a Jesus conhecer
se nossa vida calar, quem pode saber?
Muitos precisam de vida
vida que brota de Deus
nossa missão é viver

Boca que vive o que diz
é marca daquele que vive com Deus
mostra bem mais um viver que um farto falar
Vidas que mostrem a vida
vida que brota de Deus
nossa missão é viver

Só em Deus, só em Deus terei
Só em Deus, só em Deus terei
todo o poder pra falar
todo o poder pra viver
e com amor lhe prestar
o mais digno louvor

E frente ao dia final
com todos os santos, remidos, no céu
possa eu também escutar:
"Servo bom e fiel"
Glória de Deus, salvação
muitos milhares virão
Jesus, pra sempre, Senhor

Um gde beijo,
Leila

Iana Coimbra said...

Povo,

Valeu por cada contribuição.

Algumas respostas:

Paulo: Não me acho líder de nada não, mas agradeço pela palavras. ;)

Tody: Fala, Deus!

Teca: Eu, pelo menos, sei que frequentemente preciso calar a minha boca. Um dia eu chego lá.

Mora: Seus comentários sempre me fazem pensar. Esse não foi diferente.

Cida: É o que eu disse. Não existem fórmulas, mas Deus sempre manda as estratégias, saca. O importante é não ser o crente mala. Pq isso ninguém merece.

Paulo Victor said...

- Se não quiser aceitar este, blz. -

Oi, Iana.

Quando falei de liderança, coloquei no sentido de que muitas pessoas - na igreja - têm vocês como exemplos de vida. Talvez seja reflexo da visibilidade. A posição que assumem faz com que o que vocês dizem seja tomado por vezes como lei, como dogma.

A igreja funciona muito assim. Alguém que está lá em cima, na frente, fala, e o povo - grande parte - segue. E pronto. Sem questionar, sem argumentar, como um rebanho domado.

Já que a realidade muitas vezes é essa, sinceramente encaro com alívio quando esse papel de liderança ou de voz que vai longe vem de pessoas como você, a Ana, ou as que citei no comentário.
Pra uma multidão que segue cegamente o que o "líder" diz, é muito bom que haja pessoas com essa lucidez cristã, como a que você demonstra em seus posts, pra fazer contrapartida com tantos lunáticos soltos aos quatro cantos... (ia fazer um "hehe", mas talvez isso seja mais triste do que engraçado).

Carol Comin Silva said...

Olá Iana! Que post de Deus este!
Estou passando por uma situação em minha faculdade e sempre fico pensando em como agir. Ouvi tantos péssimos testemunhos, que o problema não é ter vergonha de Jesus e falar sobre ele, mas sim, vergonha dos cristãos que já passaram por lá, falaram muito e foram de pouca ação (ou de más ações)!Percebi exatamente o que Agostinho falou, e o que você concluiu no post, que preciso agir mais e falar menos!
Que Deus abençoe você!

P.S. O livro "O Evangelho Maltrapilho",sugestão que "adotei" aqui no blog, tá fazendo a diferença na minha vida!

Elianderson said...

Sábias palavras de Agostinho... ou de São Francisco, como disse o Paulo. O evangelho vivido é muito melhor que o evangelho pregado. Precisamos mudar o método de evangelização urgente.

Anonymous said...

olá Iana
mt interessante sua experiência,
e com questão ao q ele falou dos missionarios infelizmente é uma realidade, as pessoas saem sem nenhum preparo e querem enfiar Jesus
goela abaixo literalmente nas pessoas, e o pior é que estão em uma cultura completemente diferente e com conceitos já formado a respeito de Deus, mais graças a Deus existem aqueles bem informados, e sabem como agir.
Mais q bom q vc pode mostrar Jesus a eles de uma forma diferente.
Muito legal o post, Deus te abençoe.
bjusss

Anonymous said...

Hi Iana,

Ana and I miss you and the whole family! We will be in Brazil in April-May, so maybe we will ge to see you guys. As often as I can I stop by and ready your blog. I share a lot of your points of view and especially the latest one. Keep on the good work!!!

P.S. My portuguese is really bad, I did not want to embarrass myself :) lol

Stylosophy | Lisi said...

Oi Iana!
Ai, isso pra mim é um problema! Até onde devemos ir? Só o Espírito de Deus pra nos ajudar em nosso comportamento com que não é "crente". No fim, sempre acho que o testemunho fala mais, pro bem ou pro mal.
Eu detestava "crente". Olha o que Deus fez comigo!
Hoje me lembro do que eu não gostava nos "crentes" e tento não agir igual.
Fica na paz!

Edilene said...

Ja tinha ouvido essa frase de Agostinho antes.
Ela simplesmente é maravilhosa.

Taty said...

Falou e disse Iana! mto bom!
Ta na hora de falar menos e mostrarmos mais ;)

Anonymous said...

Iana, faço das suas palavras as minhas, que post verdadeiro este seu...estou morando na região parisiense francesa a quatro meses, e vejo claramente a Europa pós-cristã que vc descreveu.
Mas eu sou esta=rangeia aqui, e se quero ver a luz de Jesus brilhar através da minha vida, a palavra chave com certeza é esta: RESPEITO!
Um bejão, quando puder de uma passadinha no blog da nossa familia: http://familiaverges.wordpress.com/

Bj, Gi.

Anonymous said...

Estou indo pastorear na Europa Pós-Cristã (Edinburgh). Vou fazer meu doutorado e pastorear. Maior desafio! Sei do que você está falando!

Anonymous said...

Oi,
só pra dizer. A frase que você citou não foi de Agostinho, mas de Francisco de Assis. E, na verdade, foi assim: "Prego o evangelho. Quando necessário, uso as palavras".

Daniel